Os estados no Sul do Brasil têm enfrentado uma forte onda de calor nas últimas semanas. Os municípios do estado de Santa Catarina (SC) têm registrado temperaturas superiores a 40 °C. Nos últimos dias, um vídeo amador (abaixo) filmado por um morador de Maracajá mostra o que seria aparentemente o asfalto “derretendo”.
O que visualizamos no vídeo, na verdade, não é um derretimento do asfalto e sim uma redução da sua viscosidade e rigidez, por conta da elevada temperatura. Outros fatores adicionais, como uma provável exsudação, que é a presença de ligante asfáltico na superfície do pavimento, podem ter contribuído para esse efeito. Ainda assim, isso ocorre por conta do comportamento viscoelástico que os materiais asfálticos possuem.
Dessa forma, vamos entender na sequência o que é a viscoelasticidade de misturas asfálticas.
O que é a Viscoelasticidade?
A viscoelasticidade das misturas asfálticas é uma característica fundamental que descreve o comportamento do material sob diferentes condições de carga e temperatura. As misturas asfálticas, compostas principalmente por ligantes asfálticos e agregados minerais, exibem tanto características viscosas quanto elásticas, dependendo das condições em que são submetidas.
O comportamento viscoelástico das misturas asfálticas refere-se à combinação de resposta viscosa (onde o material flui sob a ação de uma força) e elástica (onde o material se deforma de maneira reversível). A parte viscosa é associada à capacidade do asfalto de fluir quando submetido a temperaturas elevadas ou forças lentas, enquanto a parte elástica é mais pronunciada em temperaturas mais baixas, quando o material tende a se comportar como um sólido mais rígido.
Essa característica é crucial para a durabilidade e desempenho das vias, pois as misturas asfálticas precisam suportar tanto as tensões impostas pelo tráfego quanto as variações ambientais. A viscoelasticidade influencia diretamente a capacidade de carga das pavimentações e a resistência a deformações permanentes, como a fadiga e o envelhecimento precoce.
Como a temperatura impacta nela?
A temperatura é um dos fatores mais importantes que afetam a viscoelasticidade do asfalto. Em temperaturas elevadas, o asfalto tende a se comportar de maneira mais viscosa, com maior facilidade de deformação plástica, o que resulta em menor rigidez e maior susceptibilidade à formação de trilhas ou deformações permanentes. Isso é observado especialmente em regiões quentes, onde o asfalto pode se tornar excessivamente macio e propenso a afundamentos.
Por outro lado, em temperaturas mais baixas, o comportamento do asfalto se torna mais elástico, ou seja, o material se torna mais rígido e menos propenso à deformação. A temperatura de transição, que marca a mudança entre o comportamento viscoso e o elástico, é um parâmetro importante na definição das propriedades das misturas asfálticas. Essa transição depende não só da temperatura ambiente, mas também da composição da mistura asfáltica, incluindo o tipo de asfalto e os agregados utilizados. O uso de modificadores no asfalto, como polímeros, pode alterar essa transição, otimizando a rigidez do material para condições específicas de clima e tráfego.
O que aprendemos com isso?
É importante entender essa influência da temperatura nos materiais asfálticos e não negligenciar os estudos de clima para projetos de pavimentação. Para evitar esse tipo de problema, o ligante asfáltico deve ser escolhido em função de uma análise adequada da temperatura histórica atuante na região de estudo. Com as mudanças de clima que temos enfrentado, casos como esses com temperaturas extremas podem se tornar cada vez mais frequentes, o que reforça a necessidade dessa análise.
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